quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Nós

A pressão. Tanta pressão sobre nós. É como se o mundo nos quisesse perfeitos quando somos apenas nós. Nós a serem desatados com cuidado. O fracasso vem em punhaladas, machuca, sangra, destroça. Por mais que tentemos, nunca é o bastante. Para nós, para alguém, para ninguém. Dói não ser bom o bastante, dói não ser forte o bastante, dói não ser o bastante. Cada fracasso destrói o pouco que sobrou de nós até não sobrar mais nada além de um emaranhado de nós.

- Mariana Siqueira

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

(In) felicidade?

Os sorrisos não são mais espontâneos. Pouca coisa em mim é espontânea agora. Cada fala é pensada, analisada e meus pensamentos são filtrados. Se eles soubessem a escuridão dentro de mim, o vazio que me preenche, fugiriam. Sou como um prédio abandonado, escombros de algo que já foi belo um dia. Pouco em mim ainda sobrevive e o que sobrevive tenta parecer bem. 

Amanhã eu vou discursar sobre felicidade para os meus alunos. Que hipocrisia! A felicidade é um sentimento ingrato que há meses não cruza o meu caminho. Cada foto, cada texto, cada sorriso são falsos. As pessoas vêem o que elas precisam ver. Vêem o que eu quero que vejam. Eu não vou mostrar a dor, não vou mostrar meu coração sangrando ou meu peito dilacerado. Não há verdade nos meus sorrisos, nem nos meus olhos secos que se esforçam para não chorar.

Um dia eu gritei ao mundo minha felicidade e ele me deixou no vácuo. Esse vácuo agora me consumiu. Não há nada, nada além de dor. E infelicidade, muita infelicidade. Não vou falar com ninguém, não vou dividir isso com ninguém. É um fardo pesado que me orgulho de carregar, a infelicidade só é percebida quando se foi muito feliz uma vez e eu fui. Uma vez. Nunca mais.

- Mariana Siqueira

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Me perdi e me odeio por isso

E mais uma vez eu me odeio. E odeio cada parte de mim por ser o que eu sou. Odeio olhar no espelho e ver alguém que antes teria se detestado. Uma pessoa mesquinha, egoísta e cruel. Cruel, acima de tudo. Eu odeio pensar que acabei com ele, literalmente. Odeio ver o coração dele se despedaçar cada vez que olha para mim, odeio porque o meu se despedaça cada vez que olho para ele. Odeio cada segundo desse ódio, dessa culpa, que comprime meu peito e que aperta tanto que chega a doer. É como se o ar não existisse, como se nada mais existisse, muito menos sentido. É um buraco sem fim, é ser eu sem mim, inexistir numa existência inútil. Eu odeio e amo cada memória, porque cada uma delas está impregnada com você e, consequentemente, com a culpa de ser eu, de ser tão pouco como você. Eu me detesto um pouco mais a cada dia e desapareço dentro de um personagem perfeitamente criado por mim. Eu finjo e não canso de fingir, como se sem o fingimento eu fosse menos real. Na verdade, não sei o que é real, perdi a noção de realidade, perdi a noção de mim, me perdi e não consigo me encontrar.

- Mariana Siqueira

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Desculpe o transtorno, preciso falar do Danilo.

Às vezes eu checo a tela do smartphone duas, três, dez vezes. Ninguém vai me chamar. Você não vai me chamar mais. Eu lembro o quão desesperada eu ficava para ouvir sua voz, conversar com você antes de dormir. Não passava um dia sem dizer que te amava, um dia sem falar com você. Hoje fazem meses que não conversamos de verdade. E eu sinto sua falta. Sinto sua falta a cada momento do dia, a cada passo que eu dou, a cada sorriso falso que eu abro. Só você me fazia sorrir pra valer. E que saudade das suas piadas. É como se nada mais tivesse graça, como se você tivesse levado o que eu tinha de bom. Não sobrou muita coisa e eu ainda estou reaprendendo a lidar comigo mesma.

Quantas vezes discutimos e voltamos a nos falar no mesmo dia porque eu nunca quis dormir brigada com você. Sabe, eu tinha medo de acontecer alguma coisa, de você decidir deixar de me amar da noite para o dia. Alguma coisa aconteceu.

Foram sete anos juntos, sete anos perfeitos. Eu te amei mais a cada dia que passamos juntos, eu fui a pessoa mais feliz do mundo ao seu lado. Nós temíamos esse dia, o dia em que usaríamos verbos no passado para falar de amor, o dia em que as lembranças seriam melhores que o presente e o dia em que falar sobre nós encheria nossos olhos de lágrimas. Nós juramos que havíamos dado o nosso melhor e que fomos as pessoas mais fofas do mundo juntos. Não sou mais fofa, aliás, quero socar a cara de quem disser que ainda sou fofa. 

Guardo cada filhote que você me deu, cada um deles com nome e personalidade próprios, criados por nós, nossos filhos. Ninguém nunca vai me dar um mundo de faz-de-conta como você me deu, ninguém nunca vai me permitir ser o que eu fui porque eu nunca mais vou me permitir ser o que eu fui. Agora, ainda dói demais ter te amado tanto, mas não me arrependo de nenhum segundo. Compartilhamos uma vida, um mundo imaginário, videogames, séries, viagens, sonhos, idas ao cinema, um carro, poesias, presentes, músicas, competições no Cartola, depoimentos no Orkut, conselhos, senhas de banco, segredos, medos, planos. Ah, nossos planos! Isso é o que mais dói, saber que nossos planos, aqueles que a gente sonhou um dia já não são mais nossos. 

Nunca vou me esquecer da primeira rosa que você me deu. Era uma flor artificial porque eu sempre odiei ver as flores morrerem. Tem algo na morte das coisas bonitas que destrói meu coração. Já te disse o quanto o nosso amor foi lindo? 

Nos conhecemos por meio dos nossos amigos, amizades que não duraram tanto quanto a gente. Você era baixista de uma banda incrível - sim, era incrível para mim, sempre será - e esbanjava confiança. E um sorriso lindo de ver. Foi o seu piercing que fez com que eu olhasse para a sua boca naquele primeiro ensaio, mas não foi ele que me fez querer te beijar. Foi você, o jeito fofo como você dizia gostar de Blink-182, Sum 41, Oasis, Phil Collins e Avril Lavigne. Você era uma bagunça e eu organizada demais, nós viramos uma mistura de ordem e caos e nos completamos como a melodia completa uma música.

Todas as músicas que eu ouvia com você, desde as mais cafonas até as mais idiotas, cada uma delas me traz um pouco da gente. A banda que nos uniu, Blink-182, já não existe mais, pelo menos não como era antes. Nós também não existimos mais, não como éramos antes. Mas eu nunca vou deixar de amar aquele trio formado por garotos brincalhões que cantavam emocore. Assim como eu nunca vou deixar de amar o meu primeiro namorado, aquele brincalhão que cantou First Date naquele show em 2009. 

Ninguém mais vai me chamar de minha vida nem fazer aquela voz fofa - e ridícula - que nós fazíamos em uma língua inventada. Eu nunca mais vou encontrar algo tão especial porque ter te amado tanto me deixou vazia. Estou repleta de lembranças e de amor e de tristeza. Há tanto de você que há pouco de mim na minha vida. Eu queria ter podido ser a sua vida, ter te visto sorrir todos os dias, ter ganhado de você no Guitar Hero e ter te amado todas as manhãs. A palavra "vida" agora não tem mais o mesmo significado, é apenas solidão, coragem e força. E eu te amo ainda mais por ter me dado o seu amor e por ter me ensinado a ser tão forte para viver sem ele.

- Mariana Siqueira

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

E se...

E se eu tivesse virado à esquerda na primeira avenida? Se as coisas tivessem sido diferentes? Se eu tivesse ido àquela festa? Se eu não tivesse conhecido aquela pessoa? E se eu tivesse feito tudo diferente? Se eu tivesse tomado aquela decisão? E se eu tivesse feito outros planos? E se nada disso for real? E se tudo for só uma possibilidade que eu não escolhi e que acabou não acontecendo? E se eu estiver presa num mundo onde o destino já está escrito, sem poder algum sobre minhas escolhas? E se eu tiver escolhido a minha vida inteira do jeito errado? E se eu nunca souber o que seria? E se eu pudesse conhecer o futuro antes de vivê-lo? E se eu já tiver feito a escolha errada, voltado no tempo, a corrigido e escolhido esse exato momento? E se a vida tiver mais 'e se...s' do que posso suportar? E se não existissem as incertezas? E se eu soubesse o tempo todo o que fazer e como fazer? E se nada disso for real? E se a vida for um emaranhado de dúvidas que nos mantém aprisionados em seus próprios questionamentos? E se eu tivesse virado à direita na primeira avenida?

- Mariana Siqueira