sexta-feira, 14 de outubro de 2016

(In) felicidade?

Os sorrisos não são mais espontâneos. Pouca coisa em mim é espontânea agora. Cada fala é pensada, analisada e meus pensamentos são filtrados. Se eles soubessem a escuridão dentro de mim, o vazio que me preenche, fugiriam. Sou como um prédio abandonado, escombros de algo que já foi belo um dia. Pouco em mim ainda sobrevive e o que sobrevive tenta parecer bem. 

Amanhã eu vou discursar sobre felicidade para os meus alunos. Que hipocrisia! A felicidade é um sentimento ingrato que há meses não cruza o meu caminho. Cada foto, cada texto, cada sorriso são falsos. As pessoas vêem o que elas precisam ver. Vêem o que eu quero que vejam. Eu não vou mostrar a dor, não vou mostrar meu coração sangrando ou meu peito dilacerado. Não há verdade nos meus sorrisos, nem nos meus olhos secos que se esforçam para não chorar.

Um dia eu gritei ao mundo minha felicidade e ele me deixou no vácuo. Esse vácuo agora me consumiu. Não há nada, nada além de dor. E infelicidade, muita infelicidade. Não vou falar com ninguém, não vou dividir isso com ninguém. É um fardo pesado que me orgulho de carregar, a infelicidade só é percebida quando se foi muito feliz uma vez e eu fui. Uma vez. Nunca mais.

- Mariana Siqueira